Falta de semicondutores tem afetado toda a cadeia produtiva do mundo. Por Marcos Camargo Jr. e Felipe Salomão
As montadoras passam por uma crise com falta de semicondutores no Brasil. Entre as afetadas por esse problema estão Volkswagen, Chevrolet, Fiat, Hyundai, Renault e Honda, que tiveram que interromper a produção por não ter este componente para produzir os carros, que precisam de chips de alta tecnologia como controles de tração e estabilidade e módulos que demandam chips de controle. Outros mercados também têm sofrido por conta disso. Entenda a situação.
Esse problema começou com a pandemia de COVID-19, uma vez que a cadeia global de produção de componentes e chips eletrônicos mudou de estratégia para atender o forte crescimento das vendas de eletrônicos no mundo neste período. Contudo, o segmento automotivo que esperava uma grave crise de demanda com os lockdowns que afetaram todos os países (o Brasil inclusive) suspendeu encomendas destes equipamentos geralmente de origem asiática. Com a forte alta das vendas, as fábricas de veículos não conseguiram atender toda essa demanda o que tem paralisado fábricas por aqui, fenômeno de travou a produção de automóveis no mundo todo.
Como a maioria destas peças são produzidas na China ou em outros lugares do mundo, as empresas que têm sede no Brasil sofrem por conta disso, já que esses componentes demoram a chegar ao país já comprometidos com fabricantes de smartphones e eletroeletrônicos em geral.
A Renault, por exemplo, enfrentou atrasos nas entregas destes componentes na unidade de São José dos Pinhais, no Paraná, no começo do ano. Por isso, teve que paralisar a produção por dois dias em fevereiro. A marca não descarta novas interrupções na linha de montagem. Porém, analisando de forma ampla a marca francesa ficou longe de ser muito prejudicada pela falta de peças.
O complexo industrial da Fiat em Betim, em Minas Gerais, foi paralisado por duas vezes. A primeira vez foi em março, quando a marca fechou a produção por dez dias. Já a segunda interrupção aconteceu entre os dias 19 e 29 de abril. Na unidade fabril a empresa produz quase todos os modelos, uma vez que a picape Toro é feita em Goiana, Pernambuco. Apesar da pausa na linha de montagem, a companhia manteve em funcionamento a unidade de motores e depois do fechamento acelerou sua produção refletida nos últimos números da Fenabrave.
A Honda ficou paralisada entre os dias 30 de março e 12 de abril tanto nas linhas de produção de Sumaré, onde é feito o Civic, quanto em Itirapina, onde são produzidos o Fit, City e HR-V. A fábrica paulista responsável por produzir o sedã já tinha parado entre os dias 5 e 12 de fevereiro.
A escassez global no fornecimento de semicondutores também afetou a Volkswagen, que interrompeu a produção em São Bernardo do Campo e São Carlos, em São Paulo, e São José dos Pinhais, no Paraná, por dez dias em junho. Já Taubaté, que estava parada desde os dias 7 e 16 de junho, ficará fechada por mais de 20 dias, segundo informações do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região – Sindmetau.
A Hyundai ainda não interrompeu toda a produção em Piracicaba, no interior paulista. No entanto, a marca reduziu a produção de três turnos para um turno único até o dia 11 julho por falta de semicondutores. É importante dizer que a companhia já tinha suspendido o segundo e terceiro turno na metade do mês passado por conta deste mesmo problema.
O caso mais grave é sem dúvidas o da Chevrolet, que inclusive deixou de ter o carro mais vendido do país por conta disso, uma vez que as fábricas de São Caetano do Sul, em São Paulo e Gravataí, no Rio Grande do Sul, estão sem produzir o Onix e, também, o Tracker e o Spin, que são fabricados na linha de montagem paulista.
Em relação à planta gaúcha, ela está paralisada desde o dia 5 de abril e deve voltar apenas em 16 de agosto, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí – Sinmgra. A empresa também tem aproveitado essas paralisações para implantar novas tecnologias e fazer reformas na unidade da Grande São Paulo, que será responsável por produzir a nova picape Montana, que será concorrente do Toro no Brasil.
O que diz a Anfavea
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – Anfavea informou na última apresentação dos resultados da indústria nacional que a crise global por falta de semicondutores ainda não tem uma solução a curto prazo, o que deve causar mais pausas nas linhas de montagens por aqui até o final do ano.
A Entidade, que representa as montadoras no Brasil, ainda destacou que a capacidade das empresas produtoras de componentes eletrônicos deste porte ainda não cobrem a demanda automotiva deste ano. Por isso, a normalização no fornecimento destes insumos deve acontecer apenas no próximo ano. Além disso, a falta dos chips tem causado perdas entre 3 e 5% na produção global dos automóveis.
Contudo, a Associação mantém a previsão de produção de 2,5 milhões de veículos para este ano, uma vez que já foi levado em conta o risco deste problema global.
No Mundo
A crise nas fábricas de automóveis não é uma exclusividade do Brasil. Em escala global as fábricas foram afetadas pela falta de peças especialmente os semicondutores. A Toyota já teve que paralisar a produção no Japão. Por lá, a empresa paralisou as três fábricas por oito dias no mês passado. Por causa disso, a marca deixou de produzir 20 mil carros, além de ser a primeira vez na história que a companhia paralisa uma linha de produção no país oriental.
A General Motors também teve que fazer uma pausa nas fábricas nos Estados Unidos, México e Canadá. As linhas de montagem ficaram paradas por duas semanas entre os meses de maio e junho.
A sua maior “rival” em solo norteamericano, a Ford também ficou parada por duas semanas nos Estados Unidos e no México no mesmo período. Além disso, a montadora anunciou que o complexo industrial de Chicago voltará a produzir somente em agosto, quando funcionará em apenas dois turnos.
Na Europa, a Land Rover suspendeu a produção na fábrica em Nitra, na Eslováquia, sem informar quando voltará a produzir novamente por lá. A capacidade da unidade fabril é de 150 mil carros por ano. É de lá que são produzidos o Defender e o Discovery para o mercado mundial.
O que os semicondutores fazem?
Atualmente, os carros têm demandado muita tecnologia que estão presentes em várias partes dos veículos. Portanto, sem os semicondutores nas centrais eletrônica dos automóveis os sistemas de segurança e assistência ao motorista não funcionam. Além disso, as modernas centrais de entretenimento são incapazes de funcionar plenamente, uma vez que não tem esses chips de alto desempenho tecnológico instalados nela. Geralmente estas peças são fabricadas na China e enviadas às montadoras em vários países como o Brasil.
Segundo um estudo da consultoria Auto Forecast Solution – AFS, a falta destes componentes fará com que as montadoras deixem de produzir um milhão de veículos nos Estados Unidos.
Já para América do Sul a estimativa é uma redução de 80 mil unidades até o final do ano.
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