Altos custos, instabilidade econômica, dólar volátil e modelo ultrapassado são os principais motivos. Por Marcos Camargo Jr
Nesta semana a Anfavea tornou oficial nesta manhã a informação de que o Salão do Automóvel foi cancelado e adiado para 2021. O anúncio foi feito após desistência de várias montadoras como Chevrolet, Toyota, Honda, BMW, PSA (Peugeot e Citroen), Land-Rover, Mitsubishi e Volvo. Para estas marcas, investir numa grande estrutura já não vale a pena. Já a Anfavea, associação nacional dos fabricantes de veículos, anunciou que fará uma rodada de discussões sobre o formato do evento e que “todas as opções estão na mesa” em termos de formato, atrações e até a cidade do evento.
O AutoShow elenca as principais motivações para o cancelamento do Salão em 2020:
Custo alto: apontado como principal razão para o cancelamento as marcas alegam que o investimento chega a R$ 20 milhões por expositor o que totaliza uma receita de R$ 300 milhões para os organizadores. Os custos incluem locação do espaço, montagem dos estandes, transporte, shows, cachê de artistas entre e até taxas cobradas por autoridades como a CET para dar suporte ao trânsito impactado nos locais de exposição.
Formato antiquado: as montadoras sabem o quanto é difícil chamar atenção do público mais jovem. Colocar o carro rodando em um palco pode na ser a melhor opção. Estamos na era da tecnologia, da experiência do cliente e novos formatos são interessantes para fugir do comum. No entanto, segundo as montadoras, os próprios organizadores de eventos não estão abertos a essas novidades.
Resultado difícil de medir: no Salão do Automóvel não se pode vender um carro. Eles ficam apenas expostos e o cliente vai até uma concessionária para fechar negócio. No entanto isso dificulta o processo de venda. O ideal seria que as concessionárias estivessem envolvidas no Salão para cadastrar potenciais clientes e até oferecer determinado carro no próprio evento.
A dinâmica de lançamentos já mudou: hoje as marcas não esperam por um evento bianual para mostrar suas novidades. Isso até fazia sentido há 30 anos atrás mas hoje não. As montadoras mostram os carros rodando camuflados que aos poucos vão perdendo esse disfarce para se mostrarem por completo. Com a internet, divulgam teasers, angariam mídia espontânea com os carros camuflados e, por vezes, chegam a mandar os carros para as concessionárias antes do lançamento oficial. Com um mercado cada vez mais competitivo não dá para esperar um evento em um intervalo tão longo. A concorrência é mais dinâmica.
Dólar volátil: a escalada do dólar que saiu de R$ 4 em janeiro para R$ 4,60 no início de março mostra que algo está errado e a previsibilidade da indústria requer o câmbio sob controle. Muitas peças ainda são importadas e o maquinário usado para produzir os carros também. Se o dólar sobe demais há um desequilíbrio é um carro pode deixar de ser lançado e um investimento ser adiado.
Incertezas político-econômicas: mesmo com a reforma da previdência aprovada, há outras mudanças esperadas por investidores para alavancar a economia do Brasil. A reforma administrativa e tributária são as mais esperadas para dinamizar o ambiente de negócios. Com impostos ainda tão altos, com o estado tão grande, é difícil permitir um cenário que atraia novos investimentos no país. A forma com que o governo lida com o congresso e a comunicação também podem atrapalhar este processo.