Fuga de Carlos Ghosn para o Líbano deixou executivos japoneses perplexos a ponto de desistirem de acordo. Por Marcos Camargo Jr
A Nissan pode pedir a separação do acordo firmado com a francesa Renault vigente desde 1999. De acordo com uma matéria publicada no último final de semana no Financial Times, executivos da Nissan afirmam que a fuga do ex-presidente do grupo, Carlos Ghosn, para o Líbano, deixou funcionários perplexos e desconfortáveis com a atitude.
De acordo com o FT, executivos japoneses afirmaram que a permanência de Ghosn deixou o ambiente corporativo “toxico”, o que impede a continuidade do acordo que tem sido positivo para as empresas nas últimas duas décadas.
No entanto, a ideia de separação da Nissan não é recente. Segundo executivos da empresa japonesa, providências como demissões em massa e a fusão do setor de engenharia das duas marcas teria sido mau vista e prejudicial para a Nissan. O presidente do conselho da Renault, Jean-Dominique Senard, admite que a aliança não deve sobreviver por muito tempo.
Carlos Ghosn está no Líbano, após ter fugido da prisão domiciliar no Japão onde aguardava o julgamento por crimes de evasão de divisas, enriquecimento ilícito e uso do cargo em benefício próprio. Ghosn tem negado as acusações e disse que deixou o Japão mesmo sem autorização afirmando que buscará um julgamento “justo”.
Queda nas vendas lá fora
Apesar da proposta, a Nissan tem vivido um ambiente difícil em seu próprio país. As ações da companhia caíram 40% ano passado e os emplacamentos reduziram na ordem de 50%. Apesar do sucesso do elétrico Leaf, a Nissan tem enfrentado dificuldades em países como os Estados Unidos.
No Brasil a Nissan que já esteve perto da quarta colocação (que hoje pertence justamente à Renault), mantém o Kicks como um dos SUVs mais vendidos mas também perdeu espaço com produtos já antiquados como o Versa, Sentra e o compacto March. Em 2020 os sedãs que são importados do México serão completamente renovados.
Recuperação no Brasil
Já a Renault, que no passado quase desistiu do mercado brasileiro, teve sob a gestão de Ghosn, tempos de recuperação. Ao trazer para o mercado brasileiro a família Dacia, com projetos de baixo custo, o ex-CEO recuperou a imagem da marca que se tornou a quarta montadora do país, à frente da Ford. A Renault já detém 9% do market share no mercado nacional.