Clássico teve 3 milhões de unidades produzidas. por Marcos Camargo Jr

O Volkswagen Fusca e também a Kombi pavimentaram a história da marca no Brasil. A primeira leva chegou importada em 1950 e já em 1953 a marca passou a montar o Fusca e a Kombi por aqui. Em 1957 a Velha Senhora começou a ser produzida aqui e o Fusva em 1959. Quase 30 anos depois o Fusca começou a sair de forma silenciosa de linha. Tinha seu público mas já não era um best seller.

Mas por que o Fusca saiu de linha naquele ano de 1986? A decisão, veio um ano antes como veremos adiante.

Ao todo no Brasil, foram mais de 3 milhões de unidades produzidas em São Bernardo do Campo. O auge veio em 1972, com 220 mil Fuscas saindo da linha de montagem naquele ano. Mas em 1985, esse número despencou para apenas 44 mil unidades. Era o sinal de que a despedida estava próxima. E de fato estava: há exatos 40 anos, a Volkswagen já decidia internamente que o fim do Fusca era inevitável.

O motivo? O Gol, lançado em 1980, já estava firme e forte no mercado. Além dele, a família crescia com Voyage e Parati, o que facilitava a transição: simplificar o Gol para assumir o posto do Fusca era uma jogada bem calculada pelos engenheiros da marca. Outras razões também levaram ao fim do fusca como o projeto obsoleto, a motorização refrigerada a ar que já não atendia padrões mínimos de eficiência e emissões além de regras de segurança.

A concorrência começava a crescer. Se nos anos 1970 chegaram o Chevrolet Chevette, o Ford Corcel (lançado em 1969), e em 1976 o Fiat 147, a própria linha Volkswagen crescia com mais opções: Brasília, Variant, TL e outras derivações eram oferecidas.

Já nos anos 1980 o Fusca ainda era barato e o público gostava do carro especialmente os mais velhos. Era o carro das empresas, veículo de apoio, viatura e o primeiro carro de muitas famílias. Também dominava o mercado de usados. Nos feirões AutoShow quase metade dos veículos à venda naqueles anos 1980 eram Fuscas.

Em 1984, a VW lançou o Fusca Love, uma edição especial que apelava para a emoção dos brasileiros — afinal, o besouro já fazia parte da cultura popular. A campanha foi bonita, mas escondia um adeus programado. O projeto do Fusca já estava datado, tinha dificuldade para atender às novas regras de segurança e emissões, e já não acompanhava a evolução do mercado.

Foi ainda em 1984 que Wolfgang Sauer, então presidente da Volkswagen do Brasil, procurou o ministro da Fazenda na época, Dilson Funaro, para avisar: o Fusca sairia de linha. A notícia acendeu um alerta. Em plena crise econômica e com a inflação fora de controle, a preocupação com o destino dos trabalhadores era real.
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Só na linha do Fusca, eram cerca de 2.200 funcionários envolvidos. Como o Gol já era fabricado em Taubaté (SP), o medo de demissões em São Bernardo era grande. Mas a Volkswagen se comprometeu: ninguém seria desligado — todos seriam realocados em outras funções.

Com tudo planejado, a decisão foi oficializada apenas em 1986: o Fusca deixaria de ser produzido. Claro que ele ainda teria uma sobrevida anos depois, quando voltou às ruas em 1993 por influência direta do então presidente Itamar Franco — mas essa já é outra história.

O fato é que, há 40 anos, a Volkswagen tomava uma das decisões mais marcantes da sua trajetória no Brasil. E assim o carro que conquistou o coração de milhões começava, aos poucos, a se despedir das linhas de produção.